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Histórias que se eternizam

 

Todos nós passamos por experiências, e muitas delas nos ensinam das formas mais difíceis. Mas, quem disse que essas histórias têm um fim? Na memória, toda história vive. E é por esse motivo que este hotsite traz tantas narrativas, como a esperança da vida após a morte, os processos que nos fazem crescer e a relação da fé com a vida do povo. Essas histórias que aqui contaremos rondam os muros do Cemitério São João Batista, e são o produto final da  disciplina de Introdução ao Jornalismo, do primeiro semestre do  Curso de Jornalismo do Centro Universitário 7 de Setembro - Uni7.  E aqui temos a junção de dois projetos: o  "Primeira Pauta", no qual o alunos fazem a sua primeira matéria; e o "Uni7 no Centro", que reúne alunos de vários semestres e que em 2018.1 foi realizado no Cemitério São João Batista.

 

Este hotsite foi desenvolvido pelo aluno Itallo Alcantara, que cursa o segundo semestre do Curso de Jornalismo, e as fotografias que aqui estão são de autoria do, também, aluno de Jornalismo: Matheus Abrahão.

História do Ceará passa pelos nomes

escritos nas lápides do São João Batista

    O cemitério mais antigo de Fortaleza apresenta um diferencial em relação aos outros construídos posteriormente. Por ter sido inaugurado em 1866, abriga parte da história cearense, e por isso é considerado um centro histórico-cultural do estado. Além de serem importantes para a arquitetura, os jazigos do São João Batista abrigam personalidades históricas cearenses como Virgílio Távora, César Cals e General Sampaio. Isso faz com que o cemitério seja um ponto turístico de Fortaleza, sendo visitado constantemente por pessoas interessadas na história do Ceará.

 

     O político Virgílio Távora foi enterrado no São João Batista quando morreu, em 1988, acometido de câncer, em São Paulo. Seu túmulo está na entrada principal do cemitério. Com uma estátua representando Jesus Cristo no meio, como se estivesse abençoando o túmulo, e quatro colunas altas em estilo grego, seu túmulo em granito ostenta letras de bronze com uma frase do ex-senador (por duas vezes: 1971-1979 e de 1983-1988), ex-governador (também por duas ocasiões: 1963-1966 e de 1979-1982) e ex-ministro dos transportes, seu nome e as datas de nascimento e falecimento.

 

Outro túmulo de um político, contemporâneo de Virgílio, é o de César Cals, que foi governador do Ceará (1971-1975), Senador (1979-1987) e Ministro das Minas e Energia (1979-1985). Os dois, junto com o também ex-governador Adauto Bezerra (1975-1978), formam o trio de coronéis que dominou a política cearense no período da Ditadura Militar no Brasil. Seu túmulo não tem tamanha imponência como de Virgílio. Foi construído em formato de uma capela, todo de mármore e na lateral uma placa indica que o túmulo é da família de César Cals de Oliveira Filho. Ainda há uma cruz de metal vazada no topo.

 

    Outro túmulo considerado histórico no cemitério São João Batista é o do General Sampaio, herói da Guerra do Paraguai. Sampaio, que foi enterrado em 1873, teve seus despojos movidos para o Pantheon na Avenida Bezerra de Menezes, em 1966. Seu túmulo é elaborado, com um nível acima do piso, quatro colunas sustentando um topo decorado com arabescos e uma cruz acima. Dentro há uma escultura, aparentemente de uma mulher apoiada em um troféu,  segurando uma coroa de folhas. Em relação a outros túmulos, o de Sampaio se destaca pela altura e chama atenção por estar perto da entrada.

 

 

    Segundo a administração do cemitério, esses e outros túmulos importantes, diferente dos comuns, são cuidados pela própria administração do cemitério, que busca preservar o patrimônio do estado.  Recebem muitas visitas, principalmente escolares, mas também das famílias que valorizam a manutenção de seus jazigos no São João Batista.

por Flávia Gouveia

A fúnebre arquitetura

Dona Mazé, de 72 anos, é professora do Estado aposentada. Frequentemente ela fica sentada em frente ao túmulo de seu marido, rezando. É um dos jazigos mais bem cuidados. O marido, Francisco, era um renomado advogado Ela comentou que todos os dias de manhã visita o cemitério pois, na sua vida, não tinha ninguém além de seu ex-marido. O que mais chamava atenção era que, de todo o cemitério, aquele local era o único acesso paralelo em que havia calçamento. 

O cemitério, em certas ocasiões, é um local de muita tristeza. Enterrar um ente querido não é um desejo comum, pois se sabe que é o último momento da pessoa na terra. Por essa razão, as famílias se preocupam onde irão enterrar seus entes. Algumas já têm um jazigo que pertenceu aos seus antepassados, e outras compram quando o falecimento acontece. Nos cemitérios antigos é que estão os túmulos com arquitetura diferencial, uma vez que os novos cemitérios têm padrão de campo, com grama e túmulos embaixo da terra.

 

No Cemitério São João Batista foram sepultados vários famosos. Por conta da classe social ou política envolvendo as pessoas sepultadas lá, muitas famílias optavam, há algumas décadas, a importar jazigos da França, esculpidos à mão por renomados lapidadores.

 

São enormes estruturas feitas de mármore, com cerca de 3 metros de altura, de cores e tamanhos diferenciados que, através das esculturas, visam eternizar a pessoa ali enterrada e trazer um pouco mais de satisfação aos familiares. Por ter uma ampla área - cerca de 95 mil metros quadrados - , o cemitério também conta com inúmeros jazigos simples e um extenso caminho de pedra que dá acesso aos vários túmulos.

 

por Hermógenes Junior

"Não trocaria a paz do meu emprego por nenhum outro"

Duas mulheres se estapeando durante um enterro. Esta foi uma das cenas curiosas e inesquecíveis na rotina de trabalho do coveiro Paulo Amorim (43), que trabalha no cemitério São João Batista, um dos mais antigos do estado. Há quase 15 anos nessa função, Paulo gosta de falar sobre suas experiências de vida.

Como um dos responsáveis por conduzir os caixões funerários até a cova, ele disse que, uma vez, durante mais um dia de trabalho, ouviu um “furdunço”. Uma mulher se dizia filha do homem que estava sendo enterrado e se achou no direito de tomar para si o carro do suposto pai. Quando outra senhora ouviu o que ela havia dito, se revoltou e afirmou que o carro deveria ser seu. Segundo o coveiro, o curto diálogo foi o suficiente para gerar confusão.

“Elas se esbofetearam no meio do cemitério e a briga foi parar do lado de fora”. Sobre o desfecho da situação, Paulo resumiu: “o pior é que ninguém sabe quem ficou com o carro”.

A rotina em um cemitério pode parecer estranha e assustadora para quem não a conhece. No entanto, as diferentes histórias narradas por Amorim mostram que ele encara a realidade de maneira natural e sem medo. “Tenho medo dos vivos”, disse.

Ele descreveu sua primeira experiência com a morte: “minha filha morreu e o meu medo era tão grande que passei mal e não consegui acompanhar o enterro”. O coveiro observou que só conseguiu vencer esse trauma quando, por acaso, foi convidado a trabalhar no cemitério. “Enquanto passava na rua, um colega me falou da oportunidade de trabalho. Como tenho que cuidar da minha família, aceitei”. 

por Natali Brandão

Vigilantes reforçam a segurança no cemitério São João Batista 

O cemitério São João Batista é um dos pontos mais emblemáticos e antigos de Fortaleza. A segurança do local, segundo vigilantes que trabalham lá, frequentemente é ameaçada por usuários de drogas e de álcool. Um deles, Bruno, que preferiu não falar seu nome completo, trabalha na função há um ano e dois meses. Ele ressalta que tanto ele quanto os colegas têm reforçado a vigilância no cemitério, que orienta os funcionários para que não permitam o uso de substâncias ilícitas.

 

O esquema de segurança alcança toda a área, e é composto de cinco vigilantes, que fazem a fiscalização apenas com arma branca: uma faca guardada na cintura. O trabalho ocorre durante todo o dia, da manhã à noite, ficando dois vigilantes na entrada principal e três no interior do cemitério. A troca dos seguranças ocorre às 7 horas e estes ficam até às 19h; neste horário há outra troca dos fiscais, que saem às 7h do outro dia. A partir das 17h é proibida a entrada de qualquer visitante, e só velórios podem ocorrer depois deste horário.

 

O vigilante relatou que já presenciou infrações no seu âmbito de trabalho: “já ocorreu de a gente pegar pessoas usando droga. A gente botou para fora. Já presenciamos gente pulando o muro, também pomos para fora”.

 

O São João Batista tem 152 anos de história, e foi fundado em 1866. O cemitério está localizado na rua Padre Mororó, sendo o reduto de importantes famílias e personalidades da história brasileira que já se foram.

por Alisson Bezerra

As histórias das milagreiras do cemitério São João Batista 

Seja a história da garota que faz milagres ou da menina que virou serpente, o cemitério São João Batista carrega várias lendas. Com 150 anos, é o cemitério mais antigo de Fortaleza e, com tanto tempo, é inevitável que várias lendas tenham sido criadas. Algumas com o intuito de assustar, outras para comover e até mesmo para despertar a fé e a religiosidade.


Histórias tão antigas, mas que ainda sim despertam a curiosidade de muitas pessoas, como a lenda da menina serpente. Os que repassam a história dizem que a garota era bem atrevida e estava sempre “dando a língua” para a mãe. Após sua morte, a menina foi amaldiçoada e assim virou uma serpente.
Essa história era contada antigamente para assustar as crianças que não obedeciam aos pais, com o intuito de discipliná-las, senão todas teriam o mesmo fim da menina serpente.


Outra história também muito conhecida entre os frequentadores do cemitério, e contada por um dos coveiros do local, é a da menina Lúcia, a garota milagreira. Não se sabe ao certo como ela morreu, alguns dizem ter sido de fome e sede ou por atropelamento. Por ter morrido muito jovem, com apenas dois anos de idade, muitos acreditam que a garota pode fazer milagres.


Segundo um dos coveiros do cemitério, Paulo Amorim, 43, toda semana, principalmente nas segundas-feiras, que é considerado o dia das almas, o túmulo da menina recebe vários visitantes. Tanto para fazer pedido, como para agradecer pelos milagres. Muitos levam flores e placas de mármore com frases de agradecimento, como um sinal de que a garota realmente pode fazer milagres.


Há também a história da Cleidimar Medeiros Dantas, uma jovem universitária que teve sua vida interrompida por um acidente. Várias pessoas vão em busca de seu túmulo para pedir ajuda, para levar flores e acender velas em homenagem à jovem. Essas são as lendas mais comuns no cemitério São João Batista. Todas carregadas com bastante mistério e envoltas em fé, para que se possa acreditar em algo tão surreal.

por Isabela Moraes

A morte como rotina

o dia a dia de um preparador de corpos para velório

Arlindo Névoa acredita na função social que exerce, ao proporcionar à pessoa falecida as condições necessárias para ter seu corpo velado ''Quando um indivíduo nasce, faz-se uma festa por que ele nasceu, então quando a morte vem, a integridade deste corpo também deve ser mantida para honrar a vida que foi vivida, dando banho, desinfetando o corpo, vestindo com sua melhor roupa e maquiando''.

 Arlindo teve seu primeiro contato com pessoas mortas durante sua adolescência, aos 13 anos de idade. Ainda garoto, acompanhava o seu avô, diretor do Instituto Médico Legal (IML) nas autópsias de corpos no local. ''Os corpos chegavam ao IML, e eu ajudava a fazer a necropsia, o estudo de corpo. É uma coisa de família, fui criado praticamente dentro do cemitério''.

Já trabalhando no segmento funerário quando a técnica chegou ao Brasil nos anos 1980, o tanatopraxista resolveu buscar um conhecimento mais aprofundado, realizando uma especialização na área. Arlindo explica que antes do procedimento chegar ao país, o processo de conservação do corpo era diferente: ''na época era feito o embalsamamento e a formolização dos cadáveres''.

No processo da tanatopraxia é realizada a aplicação de produtos químicos para a conservação do corpo do falecido, mas Arlindo ressalta que para ser um especialista nessa área, é necessário deter um conhecimento que está além do que é ensinado no curso básico. ''Você precisa conhecer a anatomia humana e todas as técnicas que fazem parte do processo, desde a reparação facial, até a reconstituição do corpo''. Segundo ele, a técnica precisa ser feita de forma rápida, no máximo em uma hora e meia, sem a perda da qualidade do tratamento que está sendo realizado.''

por Flávia Bessa

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